quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, pois metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um cara inundado de sentimento. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste. Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade não sei. Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito. Que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção. E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também.

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